terça-feira, 4 de outubro de 2011

[ Sobre querer ser criança ...]

Pode parecer tolo, mas creio que me recordo da primeira piada que fiz. Minha tia Ana estava me segurando no colo em frente a janela da sala da casa dos meus avós, quando meu tio Carlos passou pelo quintal. Eu o chamei, e ele não ouviu. Minha tia sugeriu: "Ro, chama alto!" E eu, que no auge dos três anos de idade sabia que ela estava pedindo para aumentar o tom de voz, simplesmente decidi me fazer de desentendido e chamei: "Alto!" Obviamente a família inteira ri dessa história, quando lembrada pela minha tia nos dias de hoje. Mas o que ninguém sabe é que foi proposital, eu quis na ocasião fazer que todos rissem e consegui. E ainda consigo fazer todos rirem desta história ainda hoje. Claro que eu não decidi contar pra ninguém que foi intencional. Não queria perder a graça que a história geraria futuramente.

Quando criança eu queria muitas coisas. Eu queria muitos amigos, queria brinquedos, queria ir pra rua brincar de esconde esconde, queria minhas primas brincando de escritório comigo, queria ir mais fundo na água da praia, queria pular na piscina sem bóia, queria aprender a escrever, queria estar no colegial, queria alcançar a cordinha de sinal do ônibus sem precisar subir no banco, queria liberdade, queria crescer... Mas não aguentava esperar. Morria de ansiedade!

A graça de ser criança está em você querer coisas, e em desejar abraçar o mundo todo. Quando criança, você sabe que uma hora ou outra, daqui dez ou vinte anos, você vai ter tudo o que quer. Uma hora ou outra você vai pegar ônibus sozinho, vai ter liberdade, vai poder escrever de caneta nos cadernos, vai poder usar folha de fichário, vai poder ir ao shopping sem um adulto, vai poder assistir filmes legendados no cinema... É tudo uma questão de tempo.

O tempo traz tudo que uma criança quer.
No entando, castiga a quem já cresceu.

Depois de grande, não deixei de continuar querendo as coisas. No entanto desta vez desejo coisas que são maiores do que mim, e talvez maiores que o mundo. Infelizmente, coisas que eu não sei se um dia terei. Coisas que nem o próprio tempo pode assumir a responsabilidade de me trazer. Coisas não tão simples como ter um cartão de crédito e um talão de cheques.

O desejo que encabeça a lista de vontades, o próprio tempo que um dia me ajudou, se pos contra e decidu não me dar nunca mais. Eu só queria, por uma tarde voltar a ser criança, voltar a brincar na piscina de mil litros, voltar a não se preocupar com nada, voltar a assistir Sessão da Tarde e achar todos os files mágicos, voltar a ver TV sem se preocupar com a audiência, voltar a bater tazo, a sujar a roupa do colégio.

O tempo que favorece é o mesmo que prejudica.

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