sexta-feira, 7 de outubro de 2011

[ Os meninos do começo da Paulista... ]

Shopping Paulista: Quintal da casa dessa espécime.

Os meninos do começo da Paulista são uma espécie única de habitantes da cidade de São Paulo. Preferencialmente do gênero masculino, tal espécie merece tanto, ou se não mais destaque do que outros ícones da cidade como os tiozinhos da Mooca, os emergentes da Pompéia e as garotas dos Jardins.

Os meninos do começo da Paulista possuem uma idade que varia de dezoito a vinte e cinco anos. E como o próprio titulo sugerem habitam, circulam, residem, trabalham ou rondam o começo da avenida que é o coração da capital. São oriundos de bairros como Vila Mariana, Paraíso, e Bela Vista. Nasceram filhos de uma classe média alta, cresceram e se criaram nos anos noventa e no início dos 2000, sob os olhares de uma sociedade que começava a deixar de ser tradicionalista.

Os meninos do começo da Paulista não tiveram uma infancia difícil. Nascerem no seio de um apartamento antigo com vista para iluminada região dos Jardins. Aprenderam a andar no Trianon, deram as primeiras pedaladas na bicicleta em um domingo de sol no Ibirapuera, mas passavam a maior parte do tempo no carpete da sala montando quebra cabeças, jogando jogo da memória ou assistindo televisão.

Os meninos do começo da Paulista estudaram o ginásio no Dante e viram crescer suas formas masculinas dentro do uniforme branco, amarelo e marinho. Costumavam passar as tardes do inicio de juventude no Shopping Paulista, onde com vinte reais conseguiam ir ao cinema, comer um Big Mac e pegar um táxi de volta pra casa. São solícitos, educados, finos e nunca exageram nos gestos. Quando não estavam no shopping estavam no quarto, escutando música ou lendo. Aos dez anos já falavam inglês fluente, aos trezes ganharam dos pais uma viagem pra Disney. Na formatura da oitava foram com o colégio para Bariloche, onde tiveram o primeiro porre.

Os meninos do começo da Paulista respeitaram a lei do apagão e todo dia desligavam as luzes e escutavam em seus disckman antishock músicas baixadas do Shareeza, ou do LimeWire e gravadas em um CD CDR. Foram principes ou fizeram parte dos quinze casais em pelo menos sete festas de debutantes.

Os meninos do começo da Paulista estudaram o colegial no Bandeirantes. Descubriram sua sexualidade no Bandeirantes. Fizeram seus melhores amigos no Bandeirantes. Cometeram as maiores loucuras no Bandeirantes. E vibraram ao descobrir que a Bruna Surfistinha tinha estudado no Bandeirantes.

Os meninos do começo da Paulista nunca usaram All Star, mas se viram obrigados a vestir o tal calçado para poder entrar na Converse, matinê do Cambridge. Gostavam de música pop, e de rock. Mas nunca foram até a Praça Oswaldo Cruz retirar um prêmio ganho em uma promoção de rádio. Seus pais sempre davam tudo o que era preciso para que o gosto cultural dos meninos se refinasse.

Os meninos do começo da Paulista fizeram natação, teatro, aula de piano, aula de canto e francês para preencher o tempo livre. Quando concluiram o colegial, ganharam dos pais uma Eurotrip e foram com os amigos (do Bandeirantes, claro) passear pelo invrno do velho mundo. Voltaram e não colaram a escola na faculdade. Os meninos do começo da Paulista se matricularam em um cursinho. Algum deles no Objetivo da Gazeta, outros deles no Etapa do Ana Rosa. Aqueles cujo os pais tiveram que passar por uma breve recessão, acabram optando pelo Henfil.

Após o cursinho, os meninos do começo da Paulista descubriram o Top Center, a Fnac, a Reserva Cultural. Nas sextas pré-simulados saiam com os amigos para comer sushi na Rua Augusta, ou em algum rodízio nas proximidades da Lins de Vasconcelos. Passaram um ano nessa, sem compromissos com provas mensais. Aproveitaram e conheceram Montevideo, Bueno Aires e o Peru. Prestaram vestibular, sofreram com a pressão do mesmo, deram entrevistas a jornais sobre a alimentação pré-prova e finalemnte entraram para a FAAP, para o Mackenzie, para São Camilo, para Cásper.... Existem, mas poucos são os que foram para USP e Unicamp.

Os meninos do começo da Paulista ganharam um carro após a matricula na universidade. Faziam tudo a pé ou de taxi até então. Não comemoraram a chegada do bilhete único, nunca precisaram andar de ônibus mesmo. Os meninos do começo da Paulista geralmente são universiários ou jovens adultos. Se vestem bem, estão na moda e ao menos uma peça de seus vestuário é assinada por alguma grife conhecida. São em sua maioria loiros, dos lhos claros e estatura mediana. São polidos nas palavras e pronunciam o inglês corretamente mesmo se aplicado em uma frase em português.

Sabem aproveitar a vida. Estudam semestres no exterior, passam aniversários no Canadá, vão para revellions em Paris. Saem todos os dias do fim de semana, incluindo a quinta feira. Não sei ao certo se vão casar e ter filhos. Não tenho muitas certezas em relação ao futuro dos meninos do começo da Paulista.

Mas uma coisa é certa: desfrutaram ao máximo tudo o que a cidade podia lhes oferecer e mesmo assim ainda planejam e sonham e querem morar em Nova York, Boston, Xangai, Londres, Moscou, Sidney, Vancouver, Buenos Aires...

terça-feira, 4 de outubro de 2011

[ Sobre querer ser criança ...]

Pode parecer tolo, mas creio que me recordo da primeira piada que fiz. Minha tia Ana estava me segurando no colo em frente a janela da sala da casa dos meus avós, quando meu tio Carlos passou pelo quintal. Eu o chamei, e ele não ouviu. Minha tia sugeriu: "Ro, chama alto!" E eu, que no auge dos três anos de idade sabia que ela estava pedindo para aumentar o tom de voz, simplesmente decidi me fazer de desentendido e chamei: "Alto!" Obviamente a família inteira ri dessa história, quando lembrada pela minha tia nos dias de hoje. Mas o que ninguém sabe é que foi proposital, eu quis na ocasião fazer que todos rissem e consegui. E ainda consigo fazer todos rirem desta história ainda hoje. Claro que eu não decidi contar pra ninguém que foi intencional. Não queria perder a graça que a história geraria futuramente.

Quando criança eu queria muitas coisas. Eu queria muitos amigos, queria brinquedos, queria ir pra rua brincar de esconde esconde, queria minhas primas brincando de escritório comigo, queria ir mais fundo na água da praia, queria pular na piscina sem bóia, queria aprender a escrever, queria estar no colegial, queria alcançar a cordinha de sinal do ônibus sem precisar subir no banco, queria liberdade, queria crescer... Mas não aguentava esperar. Morria de ansiedade!

A graça de ser criança está em você querer coisas, e em desejar abraçar o mundo todo. Quando criança, você sabe que uma hora ou outra, daqui dez ou vinte anos, você vai ter tudo o que quer. Uma hora ou outra você vai pegar ônibus sozinho, vai ter liberdade, vai poder escrever de caneta nos cadernos, vai poder usar folha de fichário, vai poder ir ao shopping sem um adulto, vai poder assistir filmes legendados no cinema... É tudo uma questão de tempo.

O tempo traz tudo que uma criança quer.
No entando, castiga a quem já cresceu.

Depois de grande, não deixei de continuar querendo as coisas. No entanto desta vez desejo coisas que são maiores do que mim, e talvez maiores que o mundo. Infelizmente, coisas que eu não sei se um dia terei. Coisas que nem o próprio tempo pode assumir a responsabilidade de me trazer. Coisas não tão simples como ter um cartão de crédito e um talão de cheques.

O desejo que encabeça a lista de vontades, o próprio tempo que um dia me ajudou, se pos contra e decidu não me dar nunca mais. Eu só queria, por uma tarde voltar a ser criança, voltar a brincar na piscina de mil litros, voltar a não se preocupar com nada, voltar a assistir Sessão da Tarde e achar todos os files mágicos, voltar a ver TV sem se preocupar com a audiência, voltar a bater tazo, a sujar a roupa do colégio.

O tempo que favorece é o mesmo que prejudica.

domingo, 2 de outubro de 2011

[ Primeiras lembranças... ]

Não é a primeira vez, e talvez nem seja a última. Surgiu como um ímpeto de escrever. Escrever não para ser apreciado, nem aclamado e muito menos lido. Escrever apenas para registrar minhas sensações. Descrever e tentar dissertar sobre os diferentes sentimentos que se passam pela minha cabeça. Tentar substantiva-los e os manter vivo, antes que sumam de dentro de mim e dem lugar a outras preocupações.

Ainda ontem tentei lembrar qual foi a primeira lembrança que tive da vida. Me esforcei ao máximo para não confundir as minhas memórias com as memórias que adquiri através de fotografias que me mostraram no decorrer da minha vida. Não tenho lembranças de eu sendo amamentado, e nem do meu primeiro passo. Não tenho lembranças do meu primeiro aniversário, tampouco do meu batismo, ou do primeiro natal.

Mas me lembro que no segundo minha tia melecou minha mão com glace do bolo. Lembro que quis chorar por estar sujo. Mas segurei ao máximo, não queria que tirassem foto minha sujo e ainda por cima chorando. Então apesar de insatisfeito, eu sorri. Engraçado reparar que a minha primeira lembrança é justamente de algo que se refletiria pelo resto da minha vida: disfarçar emoções.

Rir ao invés de chorar, achar engraçada situações de total desespero, ser paciente quando estou no limite. Estressar quando devo estar calmo. Situações que me fazem sempre pensar se sou estranho, se sou falso com o mundo ao meu redor, se sou humano, ou se sou apenas eu mesmo.